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Pioneiro realiza webconferência com Marcelo Gleiser

27 de novembro de 2015

“Marcelo Gleiser: um momento privilegiado de aprendizagem”

Michael Santos – Professor de História
Oscar Kudo – Professor de Física

marcelo gleiserUm lugar na memória

Muitas vezes não nos damos conta do significado que certos acontecimentos têm em nossas vidas. Como se diz, por aí, “a ficha demora a cair”. A webconferência que fizemos com o cientista, professor e escritor Marcelo Gleiser em outubro foi um desses acontecimentos que, ainda, não foi plenamente assimilado por muitos alunos. Não temos dúvidas de que cedo ou tarde esse grande evento será incorporado e lembrado por todos que dele participaram. E, nada é mais significativo, no processo de aprendizagem, do que aquilo que permanece de modo duradouro, em nossa memória, no arquivo de boas lembranças e de bons ensinamentos.

Aceitamos o desafio de preparar os alunos para a webconferência e partimos para contornar os obstáculos, superar desafios e percorrer uma boa jornada. A 1ª decisão que tomamos foi a de trazer os 9º anos junto ao ensino médio. Consideramos sensato trazê-los porque era uma oportunidade de colocá-los em uma discussão de cunho eminentemente teórico envolvendo, filosofia da ciência e epistemologia, mesmo sabendo que eles, ainda, não contavam com um repertório um pouco mais amplo e consolidado. O tema da webconferência, sugerido por Marcelo Gleiser, foi de que ela se desse em torno do seu último livro: “A ilha do conhecimento”. Sabíamos que a sua sugestão era só para estabelecer um ponto de partida e que, ao longo da conversa, ela iria se bifurcar, ou melhor, se multidirecionar em vários eixos.

O rito da preparação

Preparamos a webconferência tendo em vista alguns objetivos como:

  • o de eleger alguns eixos temáticos como referência, tais como: ciência e conhecimento, ciência e tecnologia, ciência e religião, ciência e ética e ciência e vida, para que pudéssemos selecionar materiais que servissem de subsídios e desse um norte às discussões;
  • o de estabelecer procedimentos que permitissem, aos alunos, chegarem à formulação das perguntas;
  • que estimulassem a discussão, a análise e a síntese dos eixos temáticos, em pauta.

A preparação seguiu um roteiro de crescente gradação das discussões e de um paulatino refinamento das perguntas. Começamos em pequenos grupos, depois envolvemos a classe e finalmente reunimos todos os alunos, em plenárias do ensino médio e dos 9ºs anos, separadamente. Cada grupo formulou várias perguntas, a partir da leitura e discussão dos textos e dos vídeos; em seguida, a classe, além de escolher, de três a quatro perguntas, dentre as formuladas pelos grupos, indicou os alunos que as fariam ao Marcelo Gleiser. Nas plenárias do EM e 9ºs anos os alunos formataram as perguntas finais: nove e seis, respectivamente. Elaborar boas perguntas foi, sem dúvida, a melhor forma de retribuir, ao conferencista, a sua disposição em estar conosco e a melhor demonstração de respeito aos seus aportes a muitas áreas de conhecimento. Foi o que reiteramos aos alunos, durante todo o processo de preparação.

Um ajuste de perspectiva

Tínhamos receio, desde o início, de que a elaboração das perguntas fosse encarada pelos alunos como algo simples e trivial. E que, à primeira vista, parecesse a eles mais razoável que cada um fizesse perguntas, diretamente, ao Marcelo Gleiser, na hora da webconferência, sem a necessidade de nos enveredarmos por uma série de etapas que nos tomaria tempo e energia. Em nosso dia a dia estamos acostumados a dar mais importância às respostas do que às perguntas. Perdemos a noção do quanto é difícil e trabalhoso o processo de elaboração de perguntas. Não seria surpresa se muitos alunos carregassem esse ponto de vista e a conferência fosse ofuscada por esse tipo de raciocínio invertido. De fato, muitos alunos demonstraram certa indiferença porque demoraram um pouco para tomarem consciência do desafio que representava a elaboração de perguntas e de terem noção da importância do evento e da oportunidade, única, como estudantes do ensino fundamental e médio, de poderem perguntar, dialogar e trocar impressões com uma figura da envergadura do conferencista. Só para conhecer um pouco melhor esse grande brasileiro; Marcelo Gleiser, é professor de física, astronomia e filosofia natural do Darmouth College, a mais antiga e respeitada universidade dos Estados Unidos. Além de ser autor de mais de 60 artigos científicos, de mais de 10 livros de divulgação de ciências; narrou o documentário Como Funciona o Universo, exibido pelo Discovery Channel, em 2010; apresentou no programa dominical Fantástico, da rede Globo, vários episódios sobre os temas: Mundos Invisíveis e Poeira das Estrelas, em 2006 e é articulista do jornal Folha de São Paulo, desde 1997, escrevendo sobre ciências, a milhares de leitores.

Quem tem a força: pergunta ou resposta?

“Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”, sentenciou Einstein, há muitos anos. Como cientista ele entendia o valor das perguntas porque em suas pesquisas científicas sabia que a qualidade das respostas dependia da profundidade e objetividade de suas perguntas. Sabemos que perguntas e respostas se retroalimentam e se autocomplementam em um processo contínuo e dialético. Respostas nos levam a uma certa acomodação enquanto que boas perguntas nos mobilizam, nos fazem refletir e nos sacodem mexendo com os nossos conhecimentos, as nossas experiências e as nossas lembranças mais recônditas. Afinal, a qualidade de nosso aprendizado, sobre qualquer assunto ou atividade, depende do fluxo de perguntas que fazemos.

Procuramos levar, em sala de aula, todas essas reflexões e aproveitar as aberturas que a preparação da webconferência suscitava e chamar a atenção dos alunos para o papel e importância que as perguntas têm em nossas vidas. Perguntas criam realidades ao invocarem determinadas respostas. Sabemos que a habilidade de um bom professor é saber fazer boas e pertinentes perguntas e ensinar aos seus alunos as fazerem, também.

A realização do encontro marcado

A webconferência foi um sucesso e todo mérito deve ser creditado aos alunos que foram os protagonistas de todo o roteiro desse acontecimento. Aos poucos e, persistentemente, foram formulando, reformulando e dando conteúdo, objetividade e fundamentação às perguntas que por sinal foram muito elogiadas, pelo próprio Marcelo Gleiser. É lógico que sem uma equipe de professores, engajada e preparada, para contornar as inúmeras dificuldades, garantir o envolvimento dos alunos, assegurar a leitura, a discussão dos textos e orientá-los na elaboração das perguntas, não teríamos tido o sucesso que tivemos.

O encontro durou, aproximadamente, uma hora e dez minutos. Houve uma introdução inicial do teleconferencista, que se mostrou bem-humorado e à vontade, em sua sala de trabalho, no campus do Darmouth College, seguida pelas perguntas dos nossos alunos. O tempo não foi suficiente para que todas as perguntas pudessem ser feitas. Por volta das 12h, Marcelo Gleiser, pediu que encerrássemos porque tinha que se retirar para dar as suas aulas acadêmicas, do dia.

Tudo correu, praticamente, dentro do esperado e todos nós nos sentimos muito satisfeitos com a webconferência. Só houve um pequeno problema técnico, no áudio. Os alunos dos 9ºs anos, que receberam a transmissão em uma sala diferente da dos alunos do ensino médio, não puderam ouvir as perguntas dirigidas ao Marcelo Gleiser. É verdade que isso não afetou o andamento da webconferência, mas foi ruim porque provocou uma dispersão dos alunos dos 9ºs anos que não aproveitaram, como os demais, toda a riqueza da teleconferência.

Assistir a esta palestra mostrou a todos nós que a beleza não está somente na perfeição de um quadro, nos delicados traços de uma escultura clássica, ou até mesmo na epopeia de uma partitura musical; ela está lá, também, e se revela no raciocínio intuitivo de uma construção teórica, na lógica dialética de uma demonstração científica ou na apreciação epistemológica de um fenômeno natural. No entanto, a beleza que a ciência imprime em nossa vida cotidiana está relacionada às possibilidades de nossa existência sem negar o pensamento científico objetivo, a sensibilidade e a narrativa espiritualista do devir humano. Galileu Galilei, quando escreveu sua obra “Ciência e Fé” já ponderava sobre a separação das duas principais visões de se ver o mundo. Ora, por que não encarar os textos sagrados e a natureza física como sendo dois livros escritos por um único Autor? Marcelo Gleiser nos causa esta chispa… Que bom!

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