Trabalho coletivo: a formação do aluno com desafios e descobertas

22 de março de 2013

Oscar Itiro Kudo – Professor de Física
Maria Virgínia Scopacasa – Professora de Língua Portuguesa

trabalho_coletivoUma jornada para mobilizar cada aluno a articular seus conhecimentos em um todo coerente para responder às questões dos temas de cada trimestre. Esta é a proposta do trabalho coletivo, uma prática que não se preocupa com o conteúdo particular de uma ou outra disciplina.

O trabalho coletivo impõe desafios que vão além dos limites de uma matéria específica. Com relação à organização e à disciplina, este método de trabalho dá ao aluno uma noção muito mais abrangente desses dois importantes quesitos de sua formação. Não se trata mais de uma preocupação pontual e restrita. Agora é preciso dar conta de diversos assuntos, envolver outras pessoas, executar mais etapas, manipular mais materiais e cumprir prazos. Tudo se amplifica e se complica.

O planejamento requer capacidade de pensar em médio prazo, de estabelecer com competência cada uma das etapas, de distribuir a cada uma delas o tempo disponível e saber dimensionar e finalizar o trabalho dentro do tempo previsto. Como a produção em equipe está no cerne do trabalho, o bom andamento e o sucesso da empreitada dependem de uma equilibrada divisão de tarefas entre os membros do grupo e do aproveitamento das habilidades de cada aluno. Esse tipo de aprendizado dificilmente ocorre no âmbito específico das disciplinas individualmente.

A pesquisa assume uma conotação diferente. Não se trata de pesquisar um assunto, que já está enquadrado em conhecidas fronteiras de uma disciplina específica. O aluno precisa fazer outro tipo de movimento e lançar mão de todos os conhecimentos que adquiriu ao longo de sua formação escolar para fazer uma leitura crítica de tudo com o que se deparar e então proceder sabendo estabelecer as devidas conexões, organizá-las e delimitá-las dentro de novas fronteiras. É esse material que servirá de suporte para a elaboração de seus pontos de vista e argumentos que fundamentarão o trabalho.

Finalmente, com relação à aprendizagem, o trabalho coletivo rompe com a comodidade do pensamento linear empregado nos estudos específicos das disciplinas, em que o caminho é previamente traçado, os assuntos estão organizados em blocos e as ferramentas e os instrumentos de investigação são conhecidos e estão disponíveis aos interessados. Para lidar com a complexidade dos desafios presentes no trabalho coletivo, o aluno deve ter um pensamento mais articulado, mais encadeado e sincrônico.

O trabalho coletivo, de fato, amplia a formação do aluno. Isso porque ele ativa e acentua o sentimento de participação e os compromissos para com os demais membros do grupo, desperta a curiosidade para novos assuntos e abordagens, desafia tratar diferentes opiniões e incentiva os esforços em busca da qualidade.

Não podemos esquecer que cada disciplina se faz presente no trabalho coletivo por meio de seu representante, que é o professor. Os alunos percebem e estão sempre atentos na forma em que ele se posiciona em relação a cada etapa e às questões importantes do trabalho, observando a sua manifestação quanto à exigência do planejamento, ao rigor no cumprimento dos prazos, à qualidade do que está sendo feito, ao comprometimento e à participação de cada integrante. A sua contribuição dá um sentido ao trabalho em busca de um produto final pertinente e coerente com os objetivos propostos.

A importância para os vestibulares e para a vida

O mundo é grande e complexo e a ideia de que a fragmentação facilita a compreensão do conhecimento científico orienta a elaboração dos currículos básicos em um certo número de disciplinas consideradas indispensáveis à construção do saber escolar.

Muitos acreditam que estes saberes desconectados são necessários para alcançar o ingresso em uma boa universidade, mas o que vem ocorrendo é exatamente o contrário. Os educadores e organizadores dos exames vestibulares reconhecem a necessidade da dissolução das barreiras entre as disciplinas e buscam em seus testes valorizar uma visão interdisciplinar do saber, que respeite a verdade e a relatividade de cada disciplina. É essa a característica do aluno que as grandes universidades buscam: pessoas que demonstrem capacidade de análise e síntese em um raciocínio dialógico.

O trabalho coletivo desenvolvido no Ensino Médio do Centro Educacional Pioneiro tem como objetivo essa abordagem interdisciplinar, que desafia os alunos a encontrar respostas para problemas de grande complexidade. Eles são estimulados a responder questões como “o que é qualidade de vida?”, “como uma cidade se organiza para viver?” ou ainda “o que é natureza?”, entre outras.

Para produzir um trabalho que responda a esses desafios é preciso muita leitura e pesquisa, cruzar e relacionar informações das mais diferentes áreas, principalmente aquelas que no sistema fragmentário de ensino parecem infinitamente distantes entre si. É necessário delimitar significados, buscar como isso se constitui social ou biologicamente e saber como se manifesta estatisticamente em contextos diferentes.

Não basta procurar em um livro de sociologia, história ou biologia. É fundamental questionar as informações, analisando, sintetizando e redigindo um gênero específico de texto (reportagens, ensaios e narrativas). Também é importante conhecer e utilizar estruturas e gráficos que traduzam o que dizem as palavras.

Os vestibulares buscam esse aluno que pensa e não apenas demonstra ter domínio de algumas capacidades e conhecimentos compartimentalizados. Citando Leandro Tessler, ex-coordenador dos vestibulares da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): “Acho que o caminho da interdisciplinaridade no vestibular é inevitável (…) se você quer um estudante que saiba ler, pensar, utilizar diferentes competências para resolver um problema, esse é o caminho”.

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